quinta-feira, 16 de maio de 2024

The Trainspotter's Notebook


Francis Bourgeois (2022). The Trainspotter's Notebook. Londres: Bantam.

Um daqueles caso de "a culpa de ter pegado neste livro foi do TikTok". Desta vez, não através das recomendações booktok, mas porque os vídeos deste amante dos comboios têm-me chegado à fyp, e encantam-me pelo notório amor pelas viaturas ferroviárias, a candura e inocência com que nos transmite o seu enorme entusiasmo.

O livro faz-se de relatos de experiências de trainspotting, detalhando algumas aventuras e o deslumbre quando se deparam com os veículos mais icónicos. É um livro marcadamente pessoal, algo ingénuo na forte candura. Da leitura das aventuras e desventuras de Bourgeois, saímos sempre com um sorriso, tal como o fazemos com os seus vídeos. Este não será um grande livro, leitura incontornável, mas dá-nos um vislumbre do mundo do trainspottinge, fascinante se se fizer parte desta comunidade. Mas para todos os leitores, fica o encanto com essa rara qualidade nestes dias que é o entusiasmo honesto de um autor.

terça-feira, 14 de maio de 2024

Fighter


Len Deighton (2000). Fighter: The True Story of the Battle of Britain. Londres: Castle Books.

Um detalhado e minucioso relato dos dias da batalha de Inglaterra. A pesquisa é rigorosa, apontado os factos históricos, as estratégias, as causas e os movimentos. Não nos poupa à violência, e detalha os erros de ambas as partes que pioraram os combates. Mostra a dureza desses dias, sem puxar a linha do heroísmo, mostrando como o estado de constante combate aéreo desgastou os pilotos de ambas as forças, levando-os aos seus limites. Esta batalha é um dos pontos marcantes da II Guerra, onde a hubris nazi enfrentou a resolução britânica, e este livro mostra-nos momentos em que esta esteve prestes a quebrar, debaixo da pressão constante. Mas mostra também como as vaidades dos comandantes nazis, a sua crença numa suposta superioridade, foram um dos factores que permitiram a vitória britânica. 

Dias negros, em que como disse Churchill, nunca tantos deveram tanto a tão poucos. Mas se geralmente se fala dos pilotos, este livro também nos leva a olhar para os restantes participantes, o imenso pessoal de apoio, os mecânicos que mantinham as aeronaves no ar, os operadores de radar, os observadores em terra, os operários que manufacturavam os aviões, e as populações afetadas pelos ataques alemães.

segunda-feira, 13 de maio de 2024

A Revolução Interior: À Procura do 25 de Abril


João Lameiras, João Santos, José Carlos Fernandes (2024).  A Revolução Interior: À Procura do 25 de Abril. Lisboa: A Seita/Público.

Normalmente fujo às BDs mais pedagógicas. É trauma de infância, sou daqueles tempos em as "histórias aos quadradinhos" era completamente desconsideradas e menosprezadas, exceto os livros do Astérix "porque sempre se aprendia sobre os romanos", como muitos professoras me foram dizendo ao longo da escolaridade obrigatória. Apesar da BD pedagógica ter o seu lugar, tenho aquele trauma do compromisso, do tornar aceitável todo um género não pela suas qualidades intrísecas, mas por uma vertente de utilidade educativa. Mas quando deparo com um trabalho onde colaboraram João Lameiras e José Carlos Fernandes, é impossível de resistir.

Como disse, trauma, e estes meus achaques têm tudo a ver com a temática deste livro, a ideia da conquista de uma liberdade ao mesmo tempo individual e social. Partindo de uma clássica estrutura de perguntas e respostas, onde um jovem questiona o seu pai sobre vivências de um momento histórico, somos levados pela mão ao longo de uma necessariamente curta história do 25 de abril, que se centra mais no significado individual da liberdade do que nos movimentos factuais.

Criado para comemorar os 25 anos de Abril, é justa e atempada a sua reedição nos 50 anos da revolução dos cravos. O texto de João Lameiras e João Santos é didático e evocativo, e o traço de José Carlos Fernandes dá-nos aquela sua sensação de uma geografia portuguesa sem lugar específico.

E, confesso, agora fiquei curioso com a possibilidade de um épico de 200 pranchas de saga familiar sobre esta época. Se esta grande novela gráfica do 25 de abril alguma vez avançar, asseguro-vos, pelo menos, um leitor.

domingo, 12 de maio de 2024

URL


H.R. Giger, “Atomic Children”
: Fantasias tétricas.

Qué estamos leyendo (abril de 2024): el coste de la tecnología, cómo entender Rusia y alguna perturbación sexual: Sugestões de leitura, em vários géneros.

The Evolution of Lego's Classic Space Line: A Lego, a colocar as crianças (e não só, quem me dera ter tempo para montar alguns dos kits) a sonhar com o Espaço.

We’re Obsessed With Dystopias Of The Future. What About Protopias?: Em busca de visões optimistas, mas não ingénuas ou utópicas, dos futuros possíveis.

Retornar a 2001: Se há filme que merece múltiplos regressos, é este.

New Catan game has overpopulation, pollution, fossil fuels, and clean energy: Um jogo clássico de tabuleiro, atualizado para a era antropocénica.

The Public Domain Carnage Continues with Bambi: The Reckoning: Hey, o que é que estavam à espera? O choque é a forma mais fácil de fazer uns trocos. E, confesso, o meu lado puto de nove anos está intrigado pelas possibilidades de Bambi enquanto monstro de horror.

Hellboy, Hellboy 2, e algumas memórias das adaptações cinematográficas de banda desenhada: De facto, Hellboy é das poucas adaptações de personagens de comics ao cinema que se safam, e aguentam o teste do tempo.

“Humanidade” é o tema do Amadora BD 2024: Começam a saber-se as novidades do FIBDA 2024, e o tema é muito pertinente, nos dias que correm.

Explaining How Sci-Fi Ships Stack Up: E quais são as naves mais rápidas do universo? Confesso, fiquei surpreendido de ver a Tardis no segundo lugar.

How Stephen King’s Wife Saved ‘Carrie’ and Helped Launch His Career: A história por detrás de um dos clássicos da literatura, e do cinema, de terror.

How To Shop In A Used Bookstore: Das delícias da caça aos livros nos alfarrabistas.

Decoding Reality: The 9 Best Hard Sci-Fi Novels About Virtual Worlds: A relação entre a FC e a RV é bidirecional, se é fonte de inspiração para a ficção, muitos dos criadores de espaços virtuais vão buscar as estéticas do género.


Robert McCall: Space Age clássica.

Fichar con la huella dactilar sale muy caro: la AEPD multa con 365.000 euros a una empresa española: Aqui ao lado, o uso de sistemas biométricos como forma de controlo laboral passou a ter regras mais restritas, de acordo com as leis europeias. Por cá, será que se vai restringir o uso de biometria no local de trabalho?

Space experts foresee an “operational need” for nuclear power on the Moon: Átomos para a exploração espacial.

Ataque explora alucinações AI nas perguntas de programação: Esta notícia sublinha bem os riscos do uso de IA Generativa em modo preguiçoso, mostrando como é fácil inserir bibliotecas e código malicioso, explorando o baixo esforço daqueles que fazem outsourcing cego de programação em LLMs.

10 Modern ‘Mechanical Turks’: When Automation Is Just Humans in Disguise: Há imenso chico-espertismo nos produtos que prometem automatizar com IA. Muitos recorrem a mão de obra de baixo custo noutros países para simular aquilo que o algoritmo supostamente faria.

Amazon Abandons Grocery Stores Where You Just Walk Out With Stuff After It Turns Out Its "AI" Was Powered by 1,000 Human Contractors: E este é o caso mais recente de promessas de IA a mostrarem-se sustentadas por mão de obra barata. Notem que a Amazon não é exatamente uma startup obscura e fraudulenta, mas mesmo assim investiu nesta solução, que publicitou como uma aplicação de inteligência artificial.

AI Has Lost Its Magic: Compreendo o sentimento. Há poucos anos abusava sistematicamente das GANs, esperando horas pelas bizarras imagens que aqueles algoritmos que hoje nos parecem tão primitivos geravam. Agora, usar um dos sofisticados geradores que temos ao nosso dispor, enche-me de tédio, em grande parte pela previsibilidade estética para onde estes algoritmos evoluíram.

NASA knows what knocked Voyager 1 offline, but it will take a while to fix: Não é maravilhoso perceber que se está a tentar reparar avarias num artefacto que está a milhares de milhões de quilómetros da Terra, lançado há quase cinquenta anos para lá das fronteiras do sistema solar?

Diez años después, ya sabemos cuánto dinero ha perdido Meta con la realidad virtual. Una absoluta burrada: É uma quantia espantosa, a que a Meta perdeu com a sua aventura na RV. Não foi uma aposta totalmente perdida, reavivou o campo da tecnologia e impulsionou tecnologias e aplicações, mas ficou muito aquém do sonho de a tornar mainstream. E isso, é um clássico das ondas de expansão e retração da RV, a almejada massificação nunca é atingida, mas a tecnologia em si mantém-se.

Every photo a nude in satirical art project: Não temam, não há no mercado máquinas fotográficas que dispam as pessoas. É um projeto artístico que nos coloca a refletir sobre a forma como nos apropriamos da IA.

OpenAI transcribed over a million hours of YouTube videos to train GPT-4: A ética pouco transparente das formas como a Open AI contorna as restrições ao raspamento de dados das plataformas digitais.

Spotify launches personalized AI playlists that you can build using prompts: Um uso intrigante de IA Generativa, como assistente de descoberta musical.

*Every day someone bruisingly encouters the realities of “dead media”: Quem nunca passou por isto?

Cómo iniciarse en la inteligencia artificial desde cero: conceptos básicos, herramientas, trucos y consejos: Um guia de introduçáo à IA Generativa.

MS dificulta mudança de browser no Windows: Isto é um dark pattern, e supostamente é algo proibido pela legislação europeia.

Chris Moore: Futurismo petit-bourgeois.

A história como arma de guerra: Nunca é boa ideia, já nos dizia McLuhan, analisar o presente através da visão do espelho retrovisor. As comparações com o passado podem ser úteis, mas é bom recordar que se o que vivemos hoje tem paralelos históricos, são apenas isso, paralelos e não o mesmo tipo de factores e ações.

El Mapamundi de Fra Mauro en versión interactiva: una obra cartográfica adelantada a su tiempo: Uma forma extraordinária de mergulhar num antigo mapa mundi.

O automóvel na era de Darwin: Uma análise das práticas de capitalismo desregrado que garantem o lucro da Stellantis, à custa de trabalhadores, mas também de consumidores, já que se focam na fabricação de veículos para mercados de gama alta e luxo, encarecendo-os.

Artist Attacked in Italy Over Painting of Jesus Receiving Oral Sex: Já não queimamos estes artistas desviantes como hereges, mas não deixamos de reagir mal a propostas artísticas que desafiem os pressupostos religiosos. Espreitei o trabalho do artista no Instagram, e é muito interessante, na forma como colide as estéticas contemporâneas com as da arte sacra. E note-se, se os zelotas religiosos têm chiliques, as instituições são mais abertas, os quadros estão em exposição num museu italiano de arte sacra, pertencente à diocese de Carpi. O que choca os crentes, não chocou os bispos.

Disneyland's Autopia Decides to It Call Quits on Gas Cars: A questão que o artigo não aflora é discutir se, nesta era onde sofremos as consequências do aquecimento global, uma atração de parque temático que mostra utopias automobilísticas é sensata.

The Richard Serra Sculpture That Was Just Too Much for Paris: O dilema da arte contemporânea em espaços públicos, bem exemplificado neste artigo.

A Índia não é a China: Um olhar para os dilemas de regime do país que os poderes ocidentais contemplam como um querido, capaz de rivalizar com o papão chinês.

Gaza’s Last Contemporary Art Space Decimated by Israel: Está por demais claro que sob a capa da "legítima defesa", os militares e políticos israelitas pretendem fazer tabula rasa de Gaza. A destruição de hospitais e espaços culturais não é vitimização colateral, é estratégia.

Leaked audio reveals Russian plan to occupy Kazakhstan territory: A decrépita insistência boomer em recuperar o velho império soviético parece estar a preparar o seu próximo alvo.

Scientists Discover the Villains Destroying the Planet: As empresas e países que lideram os rankings de emissões carbónicas, que apesar de todo o meritório esforço de discursos pungentes e acordos badalados, teimam em continuar a subir.

Des aérobus à Paris (1936): Uma piada de dia 1 de abril, com estes deliciosos autocarros voadores retro. Suspeito que se hoje repetissem a brincadeira com drones, havia quem acreditasse.

The ancient Roman poem so explicit it wasn't published until the 20th century: O ser explícito até é o mais leve destas frases de Catulo, essencialmente um enorme e muito direto "vai-te f***!" a um dos seus críticos.

Death Of An Art Form: Music Videos: Sinal dos tempos, o videoclip ser considerado excessivo para a capacidade de atenção das redes sociais.

quinta-feira, 9 de maio de 2024

The Secret Code


Priya Hemenway (2005). The Secret Code. Evergreen.

É um dos padrões matemáticos clássicos, que desde a antiguidade tem sido considerado uma fonte de beleza e mistério. A proporção dourada é o ponto de cruzamento entre matemática, geometria, misticismo e história de arte. O fascínio com este padrão tem sido uma constante, entre as suas manifestações naturais ou o seu uso na arte e arquitetura. Das romãs ao Parténon, das tesselações matemáticas à arte renascentista, o Phi e a proporção dourada têm fascinado artistas, filósofos, matemáticos e conhecedores de arte, naquele sentido classicista de elemento com o seu quê de mistério. Este livro traça um panorama histórico do Phi através das eras, profusamente ilustrado para nos mostrar a sua influência estética. É uma daquelas obras que os apreciadores de arte apreciam, pelo conteúdo, e pelas reminiscências que traz.

terça-feira, 7 de maio de 2024

Enciclopédia do Terror Português


(2023). Enciclopédia do Terror Português. Oeiras: Verbi Gratia.

Este lançamento tinha-me escapado no Fórum Fantástico, claro que não podia perder a oportunidade no Festival Contacto. Confesso, mesmo sabendo que posso adquirir estes livros online, prefiro aproveitar os eventos em que os editores se encontram. É, também, uma boa oportunidade para conversar um pouco com o editor, sublinhando o trabalho duradouro e notável que a Divergência tem feito para dar espaço editorial aos autores portugueses no domínio do fantástico.

Sabemos que falar de uma enciclopédia do terror em português não será, à partida, um livro muito volumoso, pelas razões que todos bem conhecemos. Estes géneros por cá tardaram a ganhar raízes, há poucas obras representativas, apenas no final do século XX o panorama começou a mudar. Os ensaios coligidos analisam a possível história do género na literatura e cinema, sob pontos de vista que incluem especialistas em jogos, escritores, críticos e historiadores. 

Destaco os excelentes ensaios de David Soares sobre o fantástico na literatura de cordel (que me vai obrigar a ir a Óbidos ver se o exemplar da Horta de Literatura de Cordel ainda se encontra esquecido nas estantes da livraria da Igreja), João Monteiro sobre os poucos filmes de terror e fantástico no cinema português, Marta Nazaré com as suas pistas sobre terror e literatura infantil, e Patrícia Sá a analisar Mário de Sá Carneiro e Florbela Espanca. 

Alguns dos ensaios sofrem um pouco do mal de nos quererm explicar o que já sabemos antes de se centrarem no tema, e alguns são muito específicos, olhando mais para percursos pessoais do que para uma história e análise literária e fílmica. No entanto, este livro fica também como documento historiográfico, o que justifica a inclusão destes textos.

Podemos não ter uma longa e rica história destes géneros na nossa vida cultural, mas não desapreciemos o pouco que temos, os artefactos fílmicos e literários que se atreveream a desbravar um terreno que, nos dias de hoje, tem uma grande vitalidade e dinamismo. Se tal é possível, hoje, isso deve-se aos que no passado se atreveram a desafiar as monoculturas do gosto cultural, como esta enciclopédia nos mostra.

segunda-feira, 6 de maio de 2024

E Depois do Abril


André Mateus, Filipe Duarte (2024). E Depois do Abril. Escorpião Azul.

E se o 25 de Abril tivesse falhado? Se naquele momento crucial na Rua do Arsenal os soldados comandados por oficiais ainda leais ao estado novo tivessem aberto fogo sobre os militares revoltosos, matando figuras de charneira? É esta a premissa desta intrigante história, com argumento de André Mateus e ilustração de Filipe Duarte. 

A aventura passa-se num presente alternativo, onde o regime salazarista reprime todas as tentativas de liberdade. A captura da líder de um movimento libertador, prontamente condenada à morte por um regime sequioso de amedrontar a população, vai despoletar um misto de tragédias familiar e nacional.

O argumento de André Mateus conduz-nos nesta ucronia, com o traço de Filipe Duarte a trabalhar um ambiente pesado, feito de fortes contraste onde impera o negro, entrecortado por um vermelho opressor. Obra que celebra Abril, atempadamente lançada neste cinquentenário da revolução dos cravos, que nos leva a pensar na História através de um simples exercício de "e se" os acontecimentos tivessem sido diferentes.

domingo, 5 de maio de 2024

URL



Starblazer: Old school.

NOBODY WANTS TO BUY THE FUTURE: WHY SCIENCE FICTION LITERATURE IS VANISHING: Uma visão algo negra da evolução mercantil do género, em grande parte motivada pelo tipo de futuro algo distópico em que estamos a viver. Por outro lado, há que observar que a FC sempre foi uma literatura de nicho, e a diminuição apontada no artigo reflete isso.

Fictional Computers: Colossus and Guardian: Um olhar para a forma como o cinema representou super-computadores.

Aryo Toh Djojo Finds "Unseen Realities" in Paris: Visões espaciais transmutadas em estéticas artísticas.

Yesterdays visions of tomorrow: Aquelas visões clássicas de habitats O'neill em órbita.

Stop Trying To ‘Keep Up’ With Books: Acima de tudo, ler é um prazer, não um ordálio.

"Es alucinante lo loca que es": las primeras reacciones a la película de ciencia ficción de Coppola no dan crédito: Confesso que estou muito curioso com este filme, e espero que chegue a ter alguma distribuição comercial.

12 Graphic Novels to Read This Spring: Sugestões de banda desenhada com um cariz mais artístico e independente do que as propostas comerciais.

How Near Can Near Future Science Fiction Get?: Uma análise ao futurismo próximo de William Gibson.


Space: 1999, “Devil’s Planet,” 1977: Botão vermelho.

Best Drawing Websites for schools: Uma lista de recursos interessantes para desenho e pintura digital.

Meet Palmsy, the fake social network where your posts stay on your device forever: Diria que isto é a epítome das redes sociais, uma app que simula uma rede social onde os nossos posts são os únicos a aparecer e recebem uma carrada de likes... sem que ninguém os veja ou os siga. É um comentário elegante sobre o vício dopamínico que sustenta o furor das redes.

20 years of Gmail: Confesso que li o artigo, algo estupefacto, a pensar como é que só se passaram 20 anos. Da forma como o gmail se entranhou no dia a dia de comunicações, quase dá uma sensação de imutabilidade, do mundo do email ter sido assim desde sempre. Recorda-nos como passou de ferramenta a infraestrutura.

Robot Dog Shot Three Times During Raid: Isto é uma manifestação de uma das principais lógicas para o uso de sistemas robóticos, o poder aceder a situações de elevado perigo sem colocar humanos em perigo.

“Mama Mia” Star Informed She’s Being Replaced By AI Voice: Curiosamente, acompanhei uma visita de estudo de alunos finalistas da minha escola a Londres, que teve como um dos seus momentos o ir ao teatro para ver este musical (é divertido, para quem gosta deste género de coisas, mas não é a minha cena). Recorda-nos que no mundo do entretenimento, interessa o que assegurar o mais rápido lucro. Se uma IA permite não ter de pagar a um ator, isso vai acontecer. E, de facto, estamos a falar de uma atriz cuja voz imita a da vocalista dos Abba. Ou seja, é como substituir um karaoke.

Tech Support… Can AI be Worse?: Uma visão sóbria, que nos mostra que a IA pode ser uma excelente ferramenta no lado automatizado do apoio técnico, desde que supervisionada por técnicos competentes que sejam capazes de intervir sempre que os pedidos se tornem complexos.

Understanding humanoid robots: Uma introdução analítica ao campo da robótica humanóide.

The Trolls Unleashed By Gutenberg’s Printing Press: A história mostra-nos que os padrões se repetem. Todos os problemas que hoje apontamos sobre desinformação, enviesamento, exacerbar de extremismos e falsidades na cultura digital, também se fizeram sentir quando a imprensa se começou a disseminar. O que muda, é a rapidez com que os maus conteúdos se espalham.

Have We Reached Peak AI?: Este artigo ecoa uma sensação que estou a ter, a de que apesar de todo o deslumbramento, hype e divulgação, a IA Generativa não é assim tão boa ou sequer útil, fora de nichos específicos, como nos querem fazer crer. É apenas o lado visível, e de certa forma o mais acessível às massas, de uma tecnologia que é realmente transformadora, mas em campos infraestruturais com aplicações complexas.

First Historical Drone Combat Between Russian Ground Robots and Ukrainian FPV Aerial Drone: Não é bem robot contra robot, porque estes sistemas autónomos combinam automatização com tele-operação. Mas é, de facto, um primeiro momento registado de combate exclusivamente entre drones.

Israel quietly rolled out a mass facial recognition program in the Gaza Strip: Não é grande surpresa que os israelitas tenham tornado a IA em mais uma arma no conflito genocida em Gaza. E se os ativistas de direitos humanos apontam as múltiplas falhas do sistema, duvido que garantir um tratamento justo aos civis palestinianos esteja no topo das prioridades do governo israelita. Erros de identificação que levem à eliminação de vítimas inocentes não contam, perante os óbvios objetivos da guerra em Gaza.

A Framework for Thinking about Disruption of the Arts by AI: Há um certo optimismo exagerado nestas ideias, apesar disso válidas. Sublinha a importância do respeito pelos direitos de autor nos modelos de treino, e a capacidade da IA Generativa de ser uma ferramenta para novas formas de expressão. O lado ingénuo mostra-se na forma como sustenta que a IA poderá ser uma ferramenta que melhore a exposição de criadores independentes e trabalhos menos conhecidos. Isto esquece a forma como esta tecnologia está a ser desenvolvida, por grandes empresas que não têm muito interesse naquilo que é menos popular.

People Are Always, Always Better Than Algorithms At Book Recommendations: E por uma razão muito óbvia, quando nós recomendamos livros, fazê-mo-lo por puro interesse na obra, não por inserção em categorias de público-alvo para vendas.

Investigation Finds What Really Happens If You Actually Click Those ░P░U░S░S░Y░I░N░B░I░O░ Links: É preciso ter coragem para mergulhar no mundo pantanoso do clicbait pornográfico. Onde, inacreditavelmente, imensa gente cai. Há demasidos homens que só usam a cabeça de baixo para pensar.

Why L. Ron Hubbard Patented His E-Meter: Uma patranha patenteada sempre soa mais fiável.

AI Is Changing Movie Workflow. But AI Still Won’t Show Up In Final Product: À medida que a IA dá os seus passos, as indústrias criativas começam a incorporar como ferramenta. E é interessante observar a forma como isto está a acontecer. Ao contrário do que afirmam os deslumbrados da IA, a IA Generativa não está a automatizar os processos de criação e a substituir os criadores humanos. Está é a acelerar o trabalho destes, colocando nas suas mãos ferramentas de visualização mais rápidas que aceleram fases menos visíveis do trabalho criativo (esboços, concept design, todo aquele trabalho que se destina a ser discutido como passo para o trabalho final). Substituir o resultado final por conteúdo totalmente gerado por IA está fora de questão, exceto em contextos mais experimentais onde isso faz sentido estético. Aliás, a ideia de produzir unicamente com IA é, consensualmente, algo verbonten nestas indústrias, desolando os sonhos húmidos de alguns executivos ou diretores criativos mais chico-espertistas.


Solomon Kane: O justiceiro da Inglaterra puritana.

The Eurofighter Typhoon Turns 30: A longa carreira do marcante projeto aeronáutico europeu.

Playboy image from 1972 gets ban from IEEE computer journals: Se nos anos 70 era visto como normal usar imagens de origem pornográfica para calibrar sistemas informáticos de imagem, hoje isso é considerado misoginia. É um sinal de evolução das sensibilidades. 

La historia del Sea Shadow, el barco "furtivo" que quiso ser la joya naval de EEUU y acabó en un rotundo fiasco: De embarcação futurista a ferro velho, uma história de futuros potenciais perdidos.

O Setenta e Quatro fica-se por aqui: É uma enorme perda. Este projeto jornalístico depressa se tornou um local de referência, abrigo para um jornalismo corajoso e independente.

Capitalism Can’t Solve Climate Change: Convém recordar que foi precisamente o capitalismo que nos levou a esta situação. O modelo chinês mostra que uma transição energética levada a sério tem impulso estatal, enquanto os sistemas de incentivos ocidentais não são os suficientes para assegurar o tipo de lucros que as empresas querem ter.

10 Most Boring Aircraft of World War II: Não que a II guerra tenha sido um momento entediante, mas com o seu habitual humor, este site destaca algumas aeronaves que não se distinguiram por ser excitantes.

Hermeus Unveils Uncrewed High-Speed Quarterhorse Mk 1 Test Aircraft: Outro projeto nos domínios da exploração do voo hipersónico.

Israel Flattens Neighboring Pavilions at Venice Biennale, Claiming Hamas Hiding Underneath: Da colheita de brincadeiras de dia 1 de abril deste ano, esta é a que mais amargamente reflete alguma realidade.

La historia del primer ferrocarril subterráneo del mundo y cómo acabó convirtiéndose en el Metro de Londres: Um olhar para os primórdios do metro londrino.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Revista Pacto

Um dos privilégios de ser fã de literatura fantástica é ter encontrado, ao longo dos anos, um padrão recorrente em festivais e encontros literários: os jovens criadores, com um olhar alegre e algo deslumbrado, cheios de entusiasmo e inocência, a anunciar o seu novo projeto literário de grupo, a revista ou antologia que lhes dá voz. Ou melhor, porque nos dias de hoje a voz adquire-se em qualquer plataforma digital, tangibiliza a voz no prestígio que tem o objeto impresso, no livro ou na revista. É fácil perder a conta a estes projetos ao longo deste tempo (mas teria bom remédio, bastaria levantar-me do sofá e ir à biblioteca consultar os que tenho nas estantes). E todos têm o mesmo destino, raramente se aguentam para lá de dois ou quatro números. Porque a vida acontece, o trabalho e a vida pessoal dos criadores e equipes de editores leva-os por outros caminhos, perdem o tempo que tinham para afinar talentos ou participar nestes projetos. Da sucessão de projetos editoriais deste género que tenho lido, creio que só a revista Bang! se mantém, sustentada pela Saída de Emergência, que a vê como um projeto de soft marketing para o seu mercado editorial. 

Não leiam o parágrafo anterior com amargura. Não é uma rezinguice ou um suspiro triste sobre o estado das coisas. É um ciclo natural, e, como disse, um enorme privilégio assistir a estes lançamentos, ler as palavras e desfrutar das imagens que estes criadores nos legam. Sabemos que de todos estes nomes, destes rostos esperançosos que sorriem ao falar do que fizeram, a maioria irá desaparecer, poucos se irão manter com constância. São vozes que se calam, mesmo que continuem a criar, para a gaveta, ou para aquela pasta especial na cloud, que isto dos discos rígidos pode falhar. São os ciclos naturais da vida e da cultura.

Este número zero da Pacto, uma nova publicação independente dedicada à ficção especulativa (inclui ficção científica, fantasia, terror e ilustração, mas ando preguiçoso e prefiro abreviar), é mais um desres momentos de surgir de novos criadores. Foi um prazer lê-la, e espero que a equipa mantenha o gosto editorial e nos legue mais números.

O conteúdo é o que podemos esperar deste género de edições. Vozes novas, algumas inexperientes, muitas histórias em que as influências culturais dos autores são visíveis. Umas surpreendem pela sua qualidade literária, outras, nota-se que haverá caminho a percorrer. Algumas são quase inocentes na sua estrutura, outras muito surpreendentes e promissoras. É natural, é mesmo isto que se espera e se quer destas edições. Repetindo-me, é sempre um privilégio ler esta frescura de ideias,  sentir este entusiasmo.

Há que salientar o cuidado gráfico nesta edição. A ilustração é sempre muito cuidada, os colaboradores gráficos deram o seu melhor nas ilustrações que publicaram. A capa, a intuir uma FC otimista que, ao terminar a revista, afinal não o é (e se querem saber porquê, vão ler a Pacto), deixou-me a pensar nas diferenças de sensibilidade e ideário geracional. Os novos futuros de hoje são críticos e inclusivos, em contraste com outras formas de imaginar o que há de vir de tempos não muito distantes. Esse é outro dos privilégios deste tipo de leituras, este vislumbre sobre diferentes sensibilidades geracionais e as suas formas de entender o mundo.

Lançada no Festival Contacto 2024, a revista Pacto foi uma boa leitura. Cá estarei para ler o próximo número, e, espero, os seguintes. A presença digital deste projeto fica-se no Instagram (lá está, sensibilidades geracionais, resmungo eu após pesquisa infrutífera por website), que desafio a visitar: Pacto.

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Contos de Eça de Queiroz


Eduardo Teixeira Coelho (1993). Contos de Eça de Queiroz. Lisboa: Vega.

Foi mais um daqueles bons acasos de alfarrabista, o deparar-me com este livro. Recolhe trabalhos queirosianos de ET Coelho, um dos nomes clássicos da BD portuguesa. São trabalhos que colocam em evidência o traço elegante e rigoroso deste grande mestre, seguindo um paradigma de BD mais no sentido de ilustração de texto do que uso da linguagem visual como meio para contar histórias. As vinhetas servem como ilustração às palavras. É um estilo algo arcaico, do nosso ponto de vista. A obra é um bom achado, para os apreciadores do traço clássico e conhecedores da história da BD em portugal.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Pussy Punk

 

Samir Karimo, Miguel Sanchéz, Felipe Arambarri (2023). Pussy Punk. Mask Comic.

Durante a vista ao Festival Contacto deste ano, cruzei-me com o intrigante Samir Karimo, que para não variar visitou o festival de saquinho na mão, procurando vender os seus livros. Este criador é uma das figuras que dão colorido ao ambiente do fandom de fantástico português. A sua última proposta é a sua típica bizarria psico-sexual entre o horror e o gore. Quem o lê já lhe conhece as taras e manias, e este mantém o estilismo. Apesar disso, não deixam de ser textos transgressivos intrigantes, e Karimo é dos raros que por cá se atreve a desafiar tão profundamente o gosto literário tradicional. O problema é o de sempre, os seus parceiros castelhanos de crime, que lhe ilustram os negros devaneios, têm a capacidade artística de um adolescente entrevado, o que torna estas pequenas brochuras curiosos artefactos de art bruta. Por cá não tivemos um Henry Darger, mas temos um Samir Karimo, que é bem mais simpático enquanto pessoa.

terça-feira, 30 de abril de 2024

Cidade Proibida


Eduardo Pitta (2007). Cidade Proibida. Lisboa: Quidnovi.

Uma leitura intranquila, difícil de categorizar. Por um lado, lê-se como uma crónica da alta sociedade portuguesa, de prosperidade assegurada pelo seu nepotismo e redes de influência, onde o mérito se mede pelo status, e é fundamental o respeito por convenções que todos, secretamente mas num secretismo mal disfarçado, desrespeitam. Um mundo de aparências e dinheiro, que vive entre festas e casas de luxo, entretecendo as suas redes de influência e laços sociais, estanque perante quem não pertença ao meio.

Mas é, também, uma história de desamor entre o filho de uma dessas altas famílias, que se imagina diferente embora na verdade mantenha todos os vícios sociais e hábitos enraizados, e um inglês da working class que vive em Portugal como professor ao serviço de uma instituição cultural britânica. Um amor condenado, entre as convenções do português e os traumas do passado de um inglês que topou à légua o desdém social classista.

De um lado, a crónica desapiedada, de um queirosianismo ao estilo da viragem do século XX, de uma fatia da alta sociedade. De outro, a tempestuosidade tórrida e algo hedonista das relações entre amantes. A escrita surpreende pela sua frieza quase clínica, a acção trágica desenrola-se com uma perene inevitabilidade, e todas as personagens vivem para si, para os seus prazeres, estatuto e forma de vida. Nem nos amores a história aquece, há um profundo sentimento de descartabilidade, mesmo que o amor seja forte, a pessoa amada poder ser facilmente abandonada porque haverá sempre mais para ocupar o lugar na capa. Uma leitura incómoda e desapiedada.

domingo, 28 de abril de 2024

URL

 

Doug Beekman’s 1989 cover: E venha mais um para o caminho. Oh take me to the next spaceport bar.

The Best Science Fantasy, recommended by Vajra Chandrasekera: Sugestões de leitura no cruzamento entre a FC e a fantasia.

Accusations Over DC Comics Artists Using Artificial Intelligence Mount: Torna-se claro que os leitores de BD não vão tolerar imagens integralmente geradas por IA nos comics. O que faz sentido, embora desiluda editores que tenham o sonho húmido de substituir os desenhadores, coloristas e arte-finalistas por promptistas. No entanto, será redutor esperar que os criadores não incorporem IA Generativa no seu trabalho. O consenso negativo prende-se mais com a possibilidade de geração integral de imagens.

Eventos: Festival Contacto: Este promissor festival está a crescer, e leva a Marvila um vasto programa para os dias 27 e 28 de abril. É de visitar.

Tyranny and resistance in "Death Strikes," the graphic novel adaptation of a concentration camp opera: Suspeito que será uma leitura curiosa, esta adaptação a BD de uma ópera escrita por dois prisioneiros do campo de Theresienstadt, que os nazis usavam como fachada para disfarçar o holocausto.

El rompedor mundo de la ciencia ficción china: así es la literatura de la que ha salido 'El problema de los tres cuerpos": Um olhar para o crescimento qualitativo da FC chinesa.

Alien: Remulus: primeiro trailer: O João Campos é mais otimista do que eu. Pessoalmente, mais um filme a estender um universo ficcional com um ponto de partida brilhante, marcante, é uma clássica expressão do bom e velho milking the cow. Que já mal dá leite e nem se aguenta nas pernas, mas isso, não interessa aos executivos que medem o cinema em apostas certas espremendo ao máximo propriedades intelectuais antigas.

New History Books, recommended by Sophie Roell: Muitas sugestões intrigantes, nesta longa lista.

Is Star Wars Science Science Fiction?: Ah, esse velho debate. Que de facto é, de um certo prisma. Recordemos que a Guerra nas Estrelas se inspira, e homenageia, as antigas space opera do tempo dos pulps e da golden age. Histórias de aventura no espaço que não primavam pelo rigor no lado científico da ficção, e que foram um dos degraus da evolução do género.

Kill, Baby, Kill!: Lógica pulp.

CNPD suspende recolha biométrica da Worldcoin em Portugal: E já não era sem tempo. A forma como a empresa está a angariar clientes excede todos os limites legais.

We Need to Decarbonize Software: O mundo digital tem custos energéticos que se traduzem em pegada carbónica. Este artigo é uma chamada de atenção para incorporar conceitos de eficiência no software, para diminuir o seu peso energético.

Pluralistic: Someday, we'll all take comfort in the internet's "dark corners": Os lugares perigosos da Internet só são verdadeiramente perigosos para quem lucra com os nossos dados, e procura todos os incentivos para nos prender nas suas gaiolas algorítmicas. E, como Doctorow muito bem observa, o problema dos criminosos e radicais extremos que usam as plataformas alternativas resolve-se responsabilizando criminalmente quem pratica crimes, não fechando plataformas inteiras.

The Wrong Way to Study AI in College: Abordar a IA de pontos de vista exclusivamente técnicos, ou de mero deslumbre, é um erro.

It’s a few years late, but a prototype supersonic airplane has taken flight: Uma aeronave que promete voltar a trazer o voo supersónico de passageiros comerciais para a ribalta, incorporando questões ambientais.

La Audiencia Nacional ordena a las operadoras bloquear Telegram por denuncias de Mediaset, Atresmedia y Movistar acerca de derechos de autor: Uma decisão forte por parte dos tribunais espanhóis. A base do bloqueio está na partilha de conteúdos pirateados em canais do Telegram, embora proibir toda a plataforma por causa do comportamento de alguns dos seus utilizadores seja em si uma medida abusiva.

Generative AI Now Encroaching on Music: Um olhar para as capacidades da Suno.ai.

Perplexity AI: How To Use It To Teach: O interessante neste serviço é a forma como conjuga vários modelos para apresentar os seus resultados.

Scaniverse introduces support for 3D Gaussian splatting: Ainda não testei, mas estou mortinho. Especialmente por perceber que a Scaniverse processa os splats no próprio telemóvel. Será que o meu aguenta?

Tools and Apps to Bring Augmented Reality into Your Classroom: Encontramos as suspeitas do costume, como a Assemblr ou o CoSpaces, mas também outras novidades com potencial.

Social Media Is Not What Killed the Web: Um olhar algo nostálgico para os tempos do passado da cultura digital, antes da comercialização ter transformado as promessas em conteúdo para monetização.

Telegram no será bloqueada. El juez reconoce que la medida era "excesiva y no proporcional": Os tribunais espanhóis a dar um passo atrás no bloqueio ao Telegram por partilha de conteúdos pirateados nalguns dos seus canais.

Se suponía que esta interfaz de Windows sería temporal: fue desarrollada en una mañana y lleva 30 años sin cambios: É um clássico da tecnologia, uma solução desenrascada em pouco tempo que se pensa que mais tarde irá ser melhorada, mas se funciona, não se mexe.

How the “Frontier” Became the Slogan of Uncontrolled AI: A metáfora da fronteira como justificação, ou melhor, desculpa esfarrapada, para abusos e injustiças.


Logging on. Jack Gaughan cover art.: FC surreal.

La humanidad estuvo a un paso de no existir. La salvación fue una migración hace más de 900.000 años: A análise do passado mostra que a nossa sobrevivência esteve várias vezes muito periclitante. Uma nota para a incompetência do departamento gráfico do Xataka, que claramente usou uma imagem gerada por IA para ilustrar o artigo, com erros óbvios, especialmente nas garrafas de vidro carregadas pelos neandertais.

The Angst Behind China’s ‘Lying Flat’ Youth: Fica-se com a sensação que o governo chinês autoriza algumas manifestações de descontentamento, para libertar pressão no sistema.

El lujo extremo ya no solo se paga, ahora debes ser "digno" de él. Hermès acaba de demostrarlo con su bolso Birkin: Não há certos nesta história. Desde as empresas de artigos de luxo que restringem a venda dos seus produtos mais cobiçados aos clientes que consideram mais fiéis, à vacuidade dos que andam atrás destes bens fúteis.

Billionaire art collectors deceived by Damien Hirst shark sculpture misdated by 18 years: Bem, não solto lágrimas por bilionários que se queixam de ter sido enganados, mas há que dizer que por muito fumo teorizador pseudo-artístico que se atire para o ar, a verdade é que isto é fraude pura. Se bem que o mundo artístico tem capacidade para se safar com tretas do tipo "bem, isto foi criado em 2017, mas a ideia conceptual surgiu-me na mente em 1999, por isso considera-se essa a data de criação" e ainda gerar uma série de teses a analisar a questão, propondo que se passe a considerar a data de uma obra não aquela em que realmente foi feita, mas sim o momento em que a ideia surgiu na cabeça do artista.

Qué fue de Hispano-Suiza: la marca española que miró de tú a tú a Rolls-Royce y que sobrevive con el coche eléctrico: A história conturbada de uma empresa espanhola que deu cartas na motorização, e agora renasce dedicada aos carros elétricos de luxo.

The best books on Central Asia’s Golden Age, recommended by S. Frederick Starr: Uma zona que já teve um papel central na história, hoje quase desconhecido. Desconhecia que as palavras e conceitos de algarismo e algoritmo têm origem linguística num antigo território da Ásia Central, a Corásmia, terra natal do matemático Al-khwarizmi, a quem atribuímos a fixação do conceito de algarismo.

LE ILLUSTRAZIONI PER LA DIVINA COMMEDIA: Não sabia que existia um dia de Dante, que se comemora a 25 de março. 

Who the Hell Came Up With an Artemisia Gentileschi “Rape Room”?: De facto, organizar uma retrospectiva da obra de uma artista com base no seu pior momento, e ainda sublinhar as atitudes do seu violador, é de um péssimo mau gosto.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Venus of the Half-Shell


Kilgore Trout (1974). Venus of the Half-Shell. Nova Iorque: Dell.

Fartei-me de rir com esta elegante paródia literária. Trout é um autor que não existe, personagem ficcional inventada por Kurt Vonnegut no seu magistral Slaughterhouse 5, se não me falha a memória. Um escritor ficcional, integrando uma ficção. E entra em campo Philip Jose Farmer, cuja carreira foi dedicada a reinventar e remisturas personagens e universos ficcionais. Farmer, fiel ao seu espírito de pastiche erudito, dedicou-se a escrever o romance mais famoso de Kilgore Trout.

A história é forte no nonsense, brincando com as tropes da FC clássica. Simon Wagstaff, último sobrevivente de uma Terra limpa às mão de alienígenas que se dedicam a limpar a sujidade dos planetas, imortal, viaja pelo espaço a tocar banjo à procura de respostas às suas profundas questões filosóficas. Acompanhado de um cão e uma coruja, também imortais, um robot feminino rebelde, sensual e mais inteligentes que os humanos, vive as mais mirabolantes aventuras até se encontrar no fim dos tempos.

O livro é uma óbvia piada literária, e confesso que fiquei a pensar numa outra eventual piada literária ainda mais obscura. Os fãs de Alan Moore conhecem a importância do personagem John Constantine, criado como uma personaficiação de Sting para as páginas de Swamp Thing. Entre o passado ficcional da personagem existe uma fase de líder de banda punk, cuja canção mais icónica foi Venus of the Hardsell. Fiquei com a sensação que há aqui uma referência à obra de um autor inexistente. Ou posso estar a ver coisas onde elas não existem.

terça-feira, 23 de abril de 2024

The Face of War


Martha Gellhorn (1994). The Face of War. Atlantic Monthly Press.

Para quem se interessa pela história dos conflitos, uma coisa é ler os estudos académicos, focados nas tendências, factos e movimentações. Outra, é ler o olhar de que viveu esses momentos, quer como participante e sobrevivente, quer como correspondente. Este livro notável reúne o olhar de uma veterana jornalista, com uma longa carreira a acompanhar conflitos. Apesar do olhar clínico de jornalista, não se oculta sob capas de isenção, é claro em todos os seus textos um profundo respeito pelos que lutam pela liberdade, e uma ácida crítica a todos os que usam o poder militar para explorar e oprimir.

O panorama deste livro é vasto. A carreira jornalística de Martha Gellhorn é longa, e isso reflete-se em textos que nos levam ao âmago de conflitos que vão da Guerra Civil espanhola às guerras sujas patrocinadas pelos EUA na América Central. O foco está sempre no terreno, no acompanhar das vivências dos soldados e sofrimentos dos civis.

Os textos sobre a II Guerra são particularmente tocantes. Começam com um acompanhamento do difícil mas triunfalista movimento das forças americanas na Europa, e terminam com a documentação do horror dos campos de extermínio e do julgamento de Nuremberga. Sente-se o desprezo, a desumanidade, o choque perante o impensável genocídio industrializado, a repelência dos responsáveis nazis, mas sem isentar um povo que, por medo ou fé ideológica, seguiu os seus ditames.

A acidez dos relatos agudiza-se ao cobrir a guerra do Vietnam, onde Gellhorn é implacável a desmontar a violência excercida sobre os vietnamitas numa guerra perdida à partida pela sua insustentabilidade. Ao acompanhar a Guerra dos Seis Dias mostra uma visão favorável da defesa israelita contra o ataque combinado dos países árabes e o seu tratamento dos palestinianos (suspeito que hoje, a visão seria diferente). Não poupa palavras ao documentar os horrores da repressão e guerra suja em El Salvador e Nicarágua, apontando o mesmo dedo de acusação criminosa que apontou aos nazis ao então presidente americano Reagan. O livro termina com uma meditação sobre os perigos do armamento nuclear, muito ao espírito dos medos de destruição mutuamente assegurada dos anos 80.

É deprimente, ler estes textos no nosso momento contemporâneo. Sentimos que o progresso humano foi nulo, que as histórias que Gellhorn nos conta, os seus testemunhos da violência espanhola, nazi, americana, vietnamita,  israelo-árabe, salvadorenha, se passam hoje em dia, nos mesmos contornos, apenas com diferentes protagonistas. Da invasão russa na Ucrânia ao desastre afegão, passando pelo reclamar de defesa genocida israelita em Gaza, à miríade de conflitos menos visíveis mais muito selvagens que se espalham em vários pontos do planeta. Até temos o regresso do espectro da guerra nuclear, invocado por um Putin que aplica o displicente rolo compressor de desperdício humano russo em nome de um passado intolerante. Curiosamente, um dos textos coligidos relata os encontros entre soldados americanos e russos na Alemanha, com Gellhorn a mostrar a humanidade russa, mas também o desprezo pela vida dos seus próprios soldados dos comandantes soviéticos. Um de muitos pormenores que tornam este livro vindo do passado numa obra de arrepiante atualidade.

domingo, 21 de abril de 2024

URL


The War of the Worlds - art by Edward Gorey (1960): Wells, surreal.

The Latest Challenge For European Publishers And Translators: Younger People Are Reading In English: Por cá, nos domínios da literatura fantástica, esse problema já é antigo. Falamos sempre daqueles livros que gostávamos de ver traduzidos por cá, mas como já os lemos em inglês, as editoras não têm realmente mercado para os vender. 

5043) As dificuldades do inglês: Não será só do inglês, outras línguas também têm expressões que traduzidas à letra, têm significados diferentes daquilo que querem dizer. 

Great European Science Fiction Films: A cinematografia da Europa de leste é um fascínio. 

I Stopped Loving Captain Kirk: O venerável capitão, visto sob a perspectiva de relações laborais tóxicas.

What Hath the Blog Wrought?: Uma análise à evolução dos blogs literários, de vanguardistas da leitura e análise na liberdade digital, até se tornaram mais um meio de crítica literária à antiga. 

5044) Ballard e o império do sol: Recordar a vida e obra de um dos escritores que marcaram o século XX.

toutpetitlaplanete:Hirō Isono - Untitled, n.d.: Futurismos.

AI Chair 1.0: “Perguntei ao ChatGPT” costuma ser o prenúncio daquelas conversas sobre IA que partem da premissa do deslumbre e uma certa indigência intelectual. Mas é James Bridle, e a lógica dele é impecável, de transformar o output de um LLM num objeto físico. 

Os grandes modelos de linguagem, automação e trabalhos de merda: Uma provocação intelectual, sobre a real utilidade de muitos trabalhos e a possibilidade de automatização via inteligência artificial. 

Pluralistic: Why Millenials aren't leaving Tiktok: Cory Doctorow recorda-nos a forma como as empresas utilizam os custos de mudança para nos manter presos a plataformas cada vez piores. 

Black Legion Patrol: Antigas palpitações.

The Lingering Shadow of Portuguese Colonization: Os fantasmas da história de Portugal, num projecto artístico. 

Paulo Freire centenário: um educador do mundo.: Recordar um educador que deveria ser mais conhecido. Na educação, seguir paradigmas únicos é intelectualmente redutor, precisamos de trabalhar sob várias perspectivas. 

What’s the Solution to Humanity’s Growing Ills?: Uma visão pouco otimista de um futuro condicionado pelas alterações climáticas. 

When Did Dogs Become Our Best Friends?: Vestígios das mais antigas interacções entre a humanidade e os cães. 

20 coisas para fazer em Lisboa durante a primavera: Para além de apanhar sol e experimentar o novo funicular da graça. 

10 amazing aircraft I can’t describe in a clickbait headline: Projetos que se distinguiram pelo seu arrojo, inovação, ou bizarria, em que a maioria deles mal saiu do projeto. 

10 Places That No Longer Exist: Locais que a história, ou cataclismos, fizeram desaparecer.